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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Farmacologia Clínica Os efeitos do café no ser humano não podem ser comparados ao da cafeína isolada



A substância mais pesquisada e conhecida do café é a cafeína, descoberta na Alemanha em 1820 pelo químico Ferdinand Runge. Deste então a ciência médica dedicou uma atenção quase que obsessiva e exclusiva à cafeína e muito pouca aos demais compostos bioativos do café, como a niacina, sais minerais e os ácidos clorogênicos/quinídeos, dentre centenas de outros, a maioria voláteis. A grande maioria dos artigos médico-científicos avaliam os efeitos da cafeína sobre o organismo humano ou sobre tecidos isolados, algo que não pode ser extrapolado para o café. Caso a ciência fosse realmente rigorosa, poderíamos dizer que ainda são necessários mais estudos com o café (café torrado e moído, café solúvel, café descafeinado, etc), particularmente conhecendo o teor final de seus componentes, pois a maioria deles, ao contrário da cafeína, que é termoestável, são termolábeis. Por isto nem todos os cafés possuem a mesma composição e assim os mesmos efeitos sobre o organismo humano.Pouco é conhecido sobre a absorção, distribuição, metabolismo e excreção dos demais compostos do café, com exceção da cafeína. Por isto mais pesquisas são necessários para um melhor conhecimento dos efeitos do café no organismo humano. A cafeína exerce seus efeitos farmacológicos principalmente pelo seu efeito através do antagonismo dos receptores de adenosina. A cafeína possui dois mecanismos de ação no organismo humano : antagoniza os receptores de adenosina, o neurotransmissor dos neurônios purinérgicos e também inibe a enzima fosfodiesterase, a responsável pela destruição do mediador químico intracelular denominado adenosina monofosfato cíclico (AMP-cíclico), o que causa um aumento do AMP cíclico intracelular. Esses efeitos nas membranas e no interior das células determinam alterações no movimento do cálcio intracelular, o principal íon envolvido no processo de contração das fibras musculares. Talvez alterações iônicas semelhantes ocorram nas células nervosas e glandulares, onde a cafeína possui um efeito estimulante. A cafeína pode também inibir ou reduzir a captação extraneuronal de catecolaminas. A cafeína também pode ter outros mecanismos de ação. Quando as xantinas como cafeína, teofilina e teobromina são administradas pela via oral, a cafeína é a mais rapidamente absorvida. Mais de 99% de uma dose oral de cafeína são absorvidos, com concentrações plasmáticas máximas atingidas em 15 a 45 minutos. Uma dose de 250mg determina concentrações plasmáticas entre 5 e 25mcg/mL. Após entrar na corrente sangüínea, a cafeína é distribuída a todas as células do organismo, onde penetra livremente. Atravessa a placenta em gestantes e está presente no leite materno em lactentes que fazem uso de bebidas que a contém. Uma pequena parcela da cafeína circulante no sangue liga-se às proteínas plasmáticas, que atuam como uma forma de depósito da substância. A medida que a cafeína das células vai sendo destruída pelo organismo e eliminada, a cafeína ligada às proteínas é liberada para suprir a quantidade eliminada, até a sua completa excreção do organismo. A principal rota de eliminação da cafeína e das demais metilxantinas é o fígado. Nas células hepáticas a cafeína é transformada em dois metabólitos principais, o ácido 1-metil-úrico e a 1-metil-xantina. Também são formadas pequenas quantidades do ácido 1,3-dimetil-úrico , a 7-metil-xantina e a 1,7-dimetilxantina. Esses metabólitos, juntamente com uma pequenina parcela de cafeína intacta, são excretados pela urina. O fígado leva um certo tempo para metabolizar a cafeína. O tempo gasto para degradar 50% da quantidade existente no organismo é denominado meia-vida, cujo símbolo é t 1/2. Em uma meia vida são eliminados 50% da quantidade de cafeína do organismo, permanecendo 50%. Em outra meia vida são eliminados outros 50% do remanescente (25 %), persistindo 25%. Na terceira meia-vida são eliminados outros 50% do que ficou no organismo (12,5%) e na quarta meia-vida é eliminado outro tanto (6,25%). Após 4 a 5 meias-vidas a cafeína terá sido quase que completamente eliminada do organismo (50% + 25% + 12,5% + 6,25% + 3,125% ). A meia-vida da cafeína apresenta uma grande variação individual, oscilando entre 3 e 7,5 horas em indivíduos normais. O metabolismo da cafeína pode ser modificado por uma grande número de fatores. Pode ser estimulado pelo próprio tabagismo, o que faz com que a cafeína seja mais rapidamente eliminada, levando a um aumento do consumo de café pelo fumante. É mais rápido em crianças, onde a meia-vida é em torno de 3,5 horas. Diminui em gestantes, onde pode haver uma meia-vida maior, em torno de 10 a 15 horas. Logo, a gestante metaboliza mais lentamente a cafeína, sendo mais suscetível aos seus efeitos. O uso de anticoncepcionais orais que contêm estrógenos e progesterona também diminui a metabolização hepática da teofilina, aumentando sua meia vida e tornando a mulher mais sensível à ingestão de grandes quantidades de café. Doenças do fígado como cirrose e do coração, como insuficiência cardíaca também levam à menor metabolização da cafeína e a uma maior meia-vida. Adicionalmente pessoas desnutridas possuem um metabolismo prejudicado da cafeína, com uma meia-vida maior. Por esse motivo, enquanto pessoas desnutridas, com doenças hepáticas ou cardíacas, mulheres que fazem uso de anticoncepcionais e gestantes podem apresentar menor tolerância à ingestão de quantidades regulares de café, um fumante crônico pode tolerar uma grande quantidade. Mas o café não contém apenas cafeína, mas um número imenso de compostos químicos (solúveis e voláteis), sendo que muitos deles bioativos, como a niacina, os sais minerais, os ácidos clorogênicos, os quinídeos, os diterpenos, dentre inúmeros outros que merecem mais estudos pela ciência médica. Comparar o café apenas com os efeitos da cafeína é como comparar uma mão apenas com um de seus dedos.

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