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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

E Deus criou a mulher


A mulher sempre sonhou com a liberdade. Mesmo submissa a rígidas disciplinas, queimando suas mãos delicadas nas brasas dos trabalhos mais duros, a mulher conseguiu modelar seu destino, erguendo-se numa oferenda ardente, como uma taça vitoriosa diante de uma nova vida. Somos muito antigas, viemos de muito longe. Cruzamos tempos e espaços, passando vertiginosamente pelas Evas, Batsebas, Aspásias, Cleópatras, Marias, Salomés, Magdalenas, Fridas, Simones, Leilas e muitas outras, até chegarmos a cada uma de nós. Desde a idade mais antiga, a mulher, resignada, sempre ouviu os segredos dos seus homens: dos guerreiros, dos governantes, dos insurretos, dos grandes e atormentados artistas, dos conquistadores e dos conquistados, dos heróis e dos criminosos; músicos, escultores, pintores, poetas e escritores cantaram sempre a sua incomparável beleza e sublime maternidade, todavia, apesar de tão celebrada, a mulher prosseguiu numa idade obscura, explorada, martirizada e esquecida por uma sociedade áspera e brutal, que chegou a decidir em concílio que a mulher não tinha alma. Pobre sociedade! Não via o que não queria ver, pois a alma da mulher há muito que já iluminava o mundo.

A idade média foi uma época trágica de sangue e violência entre os homens, e de incenso nas basílicas. Os romances de cavalaria faziam da mulher um mito dourado, intocável, que os cavaleiros andantes podiam conquistar com um mero golpe de espada e muito pouca poesia. A mulher devia parecer inatingível, alheia à realidade e à verdade. Essa postergação durou séculos e só foi superada à medida que a mulher, cansada de só ouvir, ser contemplada e submetida, passou a tomar parte nas lutas, colocando-se lado a lado com o homem, e superando-o, muitas vezes, em abnegação e valentia. A história exige que a luta seja igual para homens e mulheres, que seja universal, para aprimorar a condição humana, para que a justiça alcance por igual a todos os explorados, para que todo ser humano tenha dignidade.

Hoje estamos diante desse dia internacional. Viemos cada qual de nossas próprias circunstâncias, de laboratórios onde nossas almas passaram por experiências quase sempre infelizes, para enfrentar essa luz radiante de festa que, mesmo nos honrando, pode por um momento nos cegar. Para nós homenageadas, trata-se de uma grande alegria, mas também, de uma triste agonia, pois, mesmo sob o encanto dos holofotes, sabemos que muitas de nós ainda padecem em mundos que teimam em manter viva a sede de domínio e a saga do tormento.

Não podemos absolutamente esquecer dessas mulheres para quem o amor é ainda uma aventura desconhecida. Mulheres que vivem sob o julgo daqueles que, não compreendendo o espírito desse novo tempo, pretendem fazer da violência um ramalhete de flores a ser entregue num altar de demagogia estéril.

Parabéns a vocês, mulheres de todas as raças, cores e idades! Parabéns, não pelo dia de hoje, mas, pela palpitação diária dos seus amores e dos seus sonhos! Vocês são o melhor sal da terra! Almas que iluminam o mundo! Úteros de onde nascerão as mudanças necessárias para que o sonho aconteça, todos os dias...

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