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terça-feira, 13 de abril de 2010

O DOENTE IMAGINÁRIO.

RACHEL BARROS.A cena é familiar, de alguma forma quase todos já passamos por ela. No consultório, quando o paciente começa a desfiar suas queixas – um rosário de sintomas aparentemente vagos e imprecisos – o médico já pressente a encrenca que tem pela frente: paciente multi-queixoso, diagnóstico complicado, tratamento quando muito paliativo.

Realizados os exames de praxe – geralmente uma bateria de detectores de lesão - as apreensões geralmente se confirmam. Trata-se, uma vez mais, do grande pesadelo do clínico alopata, o constrangedor quadro de distúrbios funcionais sem lesões observáveis. Uma ocorrência que, embora cada vez mais freqüente nos dias atuais, simplesmente não faz sentido quando focada pela ótica estrutural da medicina moderna.

Afinal, se o organismo se reduz a uma máquina, e a doença resulta de um agente causal invasivo que danifica suas estruturas internas, toda alteração funcional teria que se mostrar visível quando rastreada pelos meticulosos exames de laboratório e os reveladores métodos de detecção de imagem da tecnologia hospitalar. E é aí que o diagnóstico não fecha : estima-se que mais de dois terços dos pacientes ditos funcionais não apresentam qualquer lesão que justifique seus sintomas. Daí pra frente ocorre o esperado : sem diagnóstico conclusivo, o tratamento terá que ser sintomático. Quanto ao incômodo enigma – funções alteradas sem causas visíveis - , é sempre possível empurrá-lo para o pouco conhecido terreno psíquico, rotulando-o de distúrbio neuro-vegetativo , perturbação psicológica ou estresse. E aguardar o provável surgimento da lesão, quando os recursos da medicina oficial irão realmente se mostrar insuperáveis.

Evidentemente, o problema não está nos avanços tecnológicos da medicina moderna ou em seu arsenal farmaquímico. Apesar de sua agressividade (ou por isto mesmo), esses recursos podem, em situações extremas fazer a diferença entre a vida e a morte. A questão é como e quando são utilizados: na fase funcional da doença eles não são apenas inúteis – podem ser mesmo perigosos. E as alterações das funções, salvo em casos de acidentes e outras situações excepcionais, ocorrem antes e não após as lesões. Na Medicina Chinesa esses estados pré-clínicos são denominados “doença do Chi” , um conjunto de sintomas sem causa aparente que sinaliza a desordenação das energias funcionais e dá início ao processo do adoecimento.

O ALIMENTO DA FUNÇÃO

Mas nada disso chega a surpreender quando o organismo é percebido na sua essência como um corpo de relações, uma rede de intercâmbios contínuos consigo mesmo e com o seu meio. De certa forma, todo organismo vivo é um processo digestivo, e o organismo humano é um grande comedor de mundo. Pois além do alimento material comemos igualmente sensações, impressões, emoções e experiências de vida. Nosso equilíbrio funcional depende fundamentalmente da qualidade dessas influências e de como as processamos - digerimos e assimilamos.

Mas , se não vivemos só de pão, a freqüência com que consumimos o alimento propriamente dito faz dele um fator de grande peso na determinação do estado de saúde e tem sempre um papel significativo no curso de qualquer doença. Praticamente em todas as condições patológicas é a ação cumulativa das incompatibilidades alimentares – não detectadas por falta de linguagem e não compensadas por falta de informação – o grande fomentador dos processos do adoecimento, um padrão que frequentemente evolui da disfunção até a lesão.

E é especialmente para o desassistido paciente funcional, quase sempre condenado a sofrer calado enquanto reza por um diagnóstico, que a qualificação alimentar irá exibir resultados mais significativos e imediatos. Mas isto não implica em apenas prover as quantidades suficientes de nutrientes para manter o corpo vivo e operante. Qualificar significa aqui, considerar afinidades específicas de modo a tornar a alimentação um suporte para o funcionamento integrado do todo orgânico e para o desenvolvimento saudável dos diversos aspectos de seu potencial – físico, mental, emocional e espiritual. E tampouco isto envolve a adoção de uma dieta apoiada em critérios genéricos do tipo alimentos saudáveis versus vilões alimentares, embora tal classificação represente um necessário ponto de partida. Afinal alimentos naturais são indiscutivelmente uma melhor escolha do que os alimentos processados industrialmente. Mas nem tudo que é natural é bom para o consumo – cicuta é absolutamente natural ! – e muitas vezes o remédio para alguém pode ser o veneno para um outro. Alimentos estimuladores do sistema imune, por exemplo, podem ser contra-indicados nos casos de doenças auto-imunes – podem acionar crises e sempre agravam o caso.

Como toda atividade essencial da vida, a alimentação tem como meta última o auto-conhecimento. A qualificação alimentar é um aprendizado que passa necessariamente por um crescente conhecimento acerca daquilo que se come e daquele que come, da comida e do comedor. É um processo de aprimoramento da sensibilidade que habilita a pessoa a melhor identificar suas necessidades reais e
determinar-se a buscá-las, digerí-las e assimilá-las. Exige empenho, como tudo que vale a pena, e nos tempos caóticos em que vivemos já se tornou uma questão vital. Afinal, se não temos tempo para cuidar da saúde vamos precisar de tempo para cuidar da doença.
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