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sexta-feira, 12 de março de 2010

DIREITOS ANIMAIS

conforme a Teoria Abolicionista de Gary L. Francione


1. Todos os seres capazes de sentir (seres sencientes), humanos ou não-humanos, têm um direito: o direito básico de não ser tratados como propriedade dos outros.

2. Nosso reconhecimento desse direito básico significa que devemos abolir, em vez de simplesmente regulamentar, a exploração institucionalizada dos animais -- porque ela pressupõe que os animais sejam propriedade dos humanos.

3. Assim como rejeitamos o racismo, o sexismo, a homofobia e o preconceito contra as pessoas por causa de sua idade, rejeitamos o especismo. A espécie de um ser senciente não é razão para que se negue a proteção a esse direito básico, assim como raça, sexo, idade ou orientação sexual não são razões para que a inclusão na comunidade moral humana seja negada a outros seres humanos.

4. Reconhecemos que não vamos abolir de um dia para o outro a condição de propriedade dos não-humanos, mas vamos apoiar apenas as campanhas e posições que promovam explicitamente a agenda abolicionista. Não vamos apoiar posições que reivindiquem supostas regulamentações “melhores” da exploração animal. Rejeitamos qualquer campanha que promova sexismo, racismo, homofobia ou outras formas de discriminação contra humanos.

5. Reconhecemos que o passo mais importante que qualquer um de nós pode dar rumo à abolição é adotar o estilo de vida vegano e educar os outros sobre o veganismo. Veganismo é o princípio da abolição aplicado à vida pessoal. O consumo de carnes (vaca, ave, pescado, etc), de laticínio, ovo e mel, assim como o uso de animais para roupas, entretenimento, pesquisa ou qualquer outro fim, são incompatíveis com a perspectiva abolicionista.

6. Reconhecemos a não-violência como o princípio norteador do movimento pelos direitos animais.

©2002 Gary L. Francione

Tradução: Regina Rheda



http://www.anima.org.ar/liberacion/enfoques/index.html



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10 RAZÕES PELOS DIREITOS DOS ANIMAIS

E A SUA EXPLICAÇÃO



Tom Regan *



1. A filosofia dos direitos dos animais é racional

Explicação: Não é racional discriminar de forma arbitrária. E discriminar contra animais não humanos é arbitrário. É errado tratar os seres humanos mais fracos, especialmente aqueles a quem falta a inteligência humana normal, como “ferramentas” ou “fontes renováveis” ou “modelos para testes” ou “mercadorias”. Não pode ser correto, por conseguinte, tratar outros animais como se eles fossem “ferramentas”, “modelos” ou algo semelhante, se a sua psicologia é tão rica (ou mais rica) do que a destes humanos. Pensar de outro modo é irracional.



“Descrever os animais como um sistema psicológico e químico de extrema complexidade é sem dúvida perfeitamente correto, exceto que ignora a ‘essência’ do animal” – E.F. Schumacher



2. A filosofia dos direitos dos animais é científica

Explicação: A filosofia dos direitos dos animais respeita a nossa melhor ciência em geral e a biologia evolucionária em particular. A última ensina que, nas palavras de Darwin, os humanos diferem de muitos outros mamíferos em “grau”, não em “natureza”. Quanto aos animais usados em laboratórios, é óbvio que, criados para alimentação, e caçados por prazer ou apanhados em armadilhas pelo lucro, por exemplo, são o nosso parente psicológico. Isto não é nenhuma fantasia, é um fato, provado pela nossa melhor ciência.



“Não existe nenhuma diferença fundamental entre os humanos e os mamíferos superiores nas suas capacidades mentais” – Charles Darwin



3. A filosofia dos direitos dos animais não é preconceituosa

Explicação: Racistas são pessoas que pensam que os membros da sua raça são superiores aos membros de outras raças simplesmente porque os primeiros pertencem à sua raça (a “superior”). Sexistas acreditam que os membros do seu sexo são superiores aos membros do sexo oposto simplesmente porque os primeiros pertencem ao seu sexo (o “superior”). Tanto o racismo como o sexismo são paradigmas de preconceitos insustentáveis. Não existe nenhuma raça ou sexo “superior” ou “inferior”. As diferenças raciais e sexuais são diferenças biológicas e não morais.

O mesmo é verdade para o especismo – a visão de que os membros da espécie Homo Sapiens são superiores aos membros de todas as outras espécies apenas porque os seres humanos pertencem à nossa própria espécie (a “superior”). Pois não existe nenhuma espécie superior. Pensar de outro modo é ser não menos preconceituoso do que os sexistas ou os racistas.



“Se consegues justificar a matança para comer carne, consegues justificar as condições de vida nos guetos. Eu não consigo justificar nenhuma das coisas.” – Dick Gregory



4. A filosofia dos direitos dos animais é justa

Explicação: A justiça é o mais elevado princípio da ética. Não vamos permitir ou cometer injustiças para que algum bem possa daí resultar, não vamos violar os direitos de alguns para que muitos possam beneficiar. A escravidão permitia-o. O trabalho infantil permitia-o. A maioria dos exemplos de injustiça social permitem-no. Mas não a filosofia dos direitos dos animais, cujo mais elevado princípio é o da justiça: Ninguém tem o direito de beneficiar em resultado da violação dos direitos de outro, quer esse “outro” seja um ser humano ou algum outro animal.



“As razões para uma intervenção da justiça em favor das crianças aplicam-se de forma não menos forte ao caso desses infelizes escravos – os (outros) animais.” – John Stuart Mill



5. A filosofia dos direitos dos animais possui compaixão

Explicação: Uma vida humana completa exige sentimentos de empatia e simpatia – numa palavra, compaixão – pelas vítimas de injustiça – quer as vítimas sejam humanos ou outros animais. A filosofia dos direitos dos animais apela à virtude da compaixão, e a sua aceitação soma ao crescimento dessa mesma virtude. Esta filosofia é, nas palavras de Abraham Lincoln, “o caminho de um ser humano completo”.



“Compaixão na ação pode ser a gloriosa possibilidade que poderia proteger o nosso planeta superpopulado e poluído.” – Victoria Moran



6. A filosofia dos direitos dos animais é generosa

Explicação: A filosofia dos direitos dos animais exige um compromisso para servir aqueles que são fracos e vulneráveis – aqueles que, quer sejam humanos ou outros animais, não têm a capacidade de falar por eles próprios ou de se defenderem, e que se encontram necessitados de proteção contra a ganância e a insensibilidade. Esta filosofia requer este compromisso, não porque seja do nosso melhor interesse fazê-lo, mas porque é correto fazê-lo. Por conseguinte esta filosofia apela à generosidade e o seu acolhimento acarinha o crescimento do serviço altruísta.



“Nós precisamos de uma filosofia moral na qual o conceito de amor, agora tão raramente mencionado pelos nossos filósofos, possa de novo ser um ponto primordial.” – Iris Murdoch



7. A filosofia dos direitos dos animais é realizadora individualmente

Explicação: Todas as grandes tradições em ética, tanto as seculares como as religiosas, dão ênfase à importância de quatro aspectos: conhecimento, justiça, compaixão, e autonomia. A filosofia dos direitos dos animais não é exceção. Esta filosofia ensina que as nossas escolhas devem ser baseadas no conhecimento, devem expressar justiça e compaixão, e devem ser tomadas livremente. Não é fácil atingir estas virtudes, ou controlar a inclinação humana para a ganância e a indiferença. Mas uma vida humana completa é impossível sem elas. A filosofia dos direitos dos animais apela a uma realização pessoal do indivíduo, e a sua aceitação soma ao crescimento dessa mesma realização pessoal.



“A humanidade não é um preceito externo morto, mas um impulso vivo de dentro; não auto-sacrifício, mas realização pessoal” – Henry Salt



8. A filosofia dos direitos dos animais é socialmente inovadora

Explicação: O maior impedimento para a prosperidade da sociedade humana é a exploração de outros animais às mãos dos humanos. Isto é verdade no caso das dietas prejudiciais à saúde, na confiança que a ciência deposita no “modelo animal”, e nas muitas outras formas que a exploração animal toma. E não é menos verdade no ensino e na publicidade, por exemplo, que ajudaram a entorpecer a mente humana para as exigências de razão, imparcialidade, compaixão, e justiça. Sob todas estas formas (e mais), as nações permanecem profundamente retrogradas pois falham na tarefa de servir os verdadeiros interesses dos seus cidadãos.



“A grandiosidade de uma nação e o seu progresso moral podem ser medidos pela forma como os seus animais são tratados.” – Mahatma Gandhi



9. A filosofia dos direitos dos animais é ambientalmente sensata

Explicação: As maiores causas da degradação ambiental, incluindo o efeito de estufa, poluição das águas, a perda de terra arável e terrenos férteis, por exemplo, teêm a sua origem na exploração animal. Este mesmo padrão repete-se ao longo do vasto número de problemas ambientais, desde a chuva ácida e o despejo de lixos tóxicos nos mares, até à poluição do ar e destruição do habitat natural. Em todos estes casos, agir para proteger os animais afetados (que são afinal de contas os primeiros a sofrer e a morrer devido a estes problemas ambientais), é agir para proteger a terra.



“Até que estabeleçamos uma sentida relação de afinidade entre a nossa própria espécie e aqueles companheiros mortais que compartilham conosco o sol e a sombra da vida neste agonizado planeta, não há qualquer esperança para as outras espécies, não há qualquer esperança para o ambiente, e não há qualquer esperança para nós próprios.” – Jon Wynne-Tyson



10. A filosofia dos direitos dos animais é pacifista

Explicação: A exigência fundamental da filosofia dos direitos dos animais é tratar humanos e outros animais com respeito. Faze-lo requer que não causemos sofrimento a ninguém apenas para que nós próprios ou outros possam beneficiar. É uma filosofia de paz. Mas é uma filosofia que alarga o apelo à paz para além das fronteiras da nossa espécie. Pois existe uma guerra, que se trava todos os dias, contra incontáveis milhões de animais não humanos. Lutar verdadeiramente pela paz é erguer-se firmemente contra o especismo. É uma ilusão acreditar que pode haver “paz na terra” se não conseguimos trazer paz à nosso relação com os outros animais.



“Se por algum milagre, em toda a nossa luta a terra for poupada ao holocausto nuclear, apenas justiça para todos os seres vivos salvará a humanidade.” – Alice Walker







10 RAZÕES CONTRA OS DIREITOS DOS ANIMAIS



E AS RESPECTIVAS RESPOSTAS




1. Vocês igualam animais e humanos, quando, na realidade, os humanos e os animais diferem grandemente.



Resposta: Nós não afirmamos que os humanos e os animais sejam iguais em todos os aspectos. Por exemplo, nós não estamos dizendo que os cães ou os gatos possam resolver problemas matemáticos, ou que os porcos e as vacas possam apreciar poesia. Aquilo que nós estamos afirmando é que, tal como os humanos, muitos outros animais são seres psicológicos, com uma experiência própria de bem-estar. Neste sentido, nós e eles somos análogos. Neste sentido, portanto, e apesar das nossas muitas diferenças, nós e eles somos iguais.



“Todos os argumentos para provar a superioridade do homem não conseguem destruir este rude fato: no sofrimento, os animais são iguais a nós.” – Peter Singer



2. Vocês dizem que cada humano e cada outro animal tem os mesmos direitos, o que é absurdo. As galinhas não podem ter o direito de votar, tão pouco podem os porcos ter direito a uma educação superior



Resposta: Nós não dizemos que os humanos e os outros animais têm sempre os mesmos direitos. Nem sequer todos os seres humanos têm os mesmos direitos. Por exemplo, pessoas com incapacidades mentais graves não têm direito a uma educação superior. Aquilo que nós dizemos é que estes e outros humanos partilham um direito moral básico com os outros animais – nomeadamente, o direito a serem tratados com respeito.



“É o destino de cada verdade ser objeto de ridículo quando é inicialmente aclamada” – Albert Schweitzer



3. Se os animais têm direitos, então também os vegetais têm, o que é absurdo.



Resposta: Muitos animais são como nós: têm um bem-estar psicológico deles próprios. Tal como nós, por conseguinte, esses animais têm o direito a serem tratados com respeito. Por outro lado, nós não temos nenhum motivo, e certamente nenhum motivo científico, para acreditar que cenouras e tomates, por exemplo, tragam uma presença psicológica ao mundo. Tal como todos os outros vegetais, as cenouras e os tomates, não têm nada que se assemelhe a um cérebro ou a um sistema nervoso central. Uma vez que lhes faltam estas características, não há qualquer razão para pensar nos vegetais como seres psicológicos, com a capacidade para sentir dor e prazer, por exemplo. É por estas razões que se pode racionalmente defender os direitos no caso dos animais e negá-los no caso dos vegetais.



“O caso pelos direitos dos animais depende apenas da necessidade de ter sensações.” – Andrew Linzey



4. Onde está a diferença? Se os primatas e os roedores têm direitos, então também as lesmas e as amebas têm direitos, o que é absurdo.



Resposta: Muitas vezes não é fácil saber exatamente onde “está a diferença”. Por exemplo, nós não podemos dizer exatamente que idade precisa uma pessoa de ter para ser idosa, ou que altura alguém tem de ter para ser alto. Contudo, nós podemos dizer, com certeza, que alguém que tem 88 anos é idoso, e que outra pessoa com 2,15 metros de altura é alta. De modo similar, nós não podemos diferenciar no que diz respeito a quais sejam os animais que possuem uma psicologia. Mas podemos dizer com absoluta certeza, que onde quer que se desenhe a linha com bases cientificas, os primatas e os roedores estão de uma lado (o lado psicológico), enquanto que lesmas e amebas estão do outro lado – o que não significa que nós as possamos destruir irrefletidamente.



“Nas relações dos humanos com os animais, com as flores, e com todos os objetos da criação, existe uma grandiosa ética ainda vagamente reconhecida.” – Victor Hugo



5. Mas certamente há alguns animais que podem sentir dor mas que não possuem uma identidade psicológica unificada. Uma vez que estes animais não têm o direito a ser tratados com respeito, a filosofia dos direitos dos animais implica que nós os podemos tratar como quisermos.



Resposta: É verdade que alguns animais, tais como as lagostas e bivalves, podem ser capazes de sentir dor mas no entanto não possuem a maioria das outras capacidades psicológicas. Se isto é verdade, então eles não terão alguns dos direitos que os outros animais têm. Contudo, não pode haver qualquer justificação moral para causar dor a quem quer que seja, se isso for desnecessário. E uma vez que não é necessário que os humanos comam lagosta, bivalves, e animais semelhantes, ou que os utilizem de outras formas, não pode existir qualquer justificação moral para lhes causar o sofrimento que inevitavelmente advém dessa utilização.



“A questão não é, ‘Podem eles racionalizar?’ nem ‘Podem eles falar?’ mas ‘Podem eles sofrer?’” – Jeremy Bentham



6. Os animais não respeitam os nossos direitos logo os humanos também não têm qualquer obrigação de respeitar os deles.



Resposta: Existem muitas situações nas quais um indivíduo que tem direitos não é capaz de respeitar os direitos de outros. Isto é verdade para bebês, crianças pequenas, e seres humanos mentalmente debilitados ou com perturbações mentais. No caso deles nós não dizemos que é correto tratá-los desrespeitosamente porque eles não honram os nossos direitos. Pelo contrário, nós reconhecemos que temos o dever de os tratar com respeito, apesar de eles não terem qualquer dever de nos tratar da mesma forma.

Aquilo que é verdade nos casos de bebês, crianças, e dos outros humanos referidos, não é menos verdade nos casos que envolvem animais, reconhecidamente, estes animais não têm o dever de respeitar os nossos direitos. Mas isto não elimina ou diminui a nossa obrigação de respeitar os deles.



“O tempo chegará em que pessoas tais como eu olharão para o assassinato de (outros) animais da mesma forma que olham para o assassinato de humanos.” – Leonardo Da Vinci



7. Deus deu aos humanos domínio sobre os animais. É por isso que nós lhes podemos fazer o que quisermos, incluindo comê-los.



Resposta: Nem todas as religiões apresentam os humanos como tendo domínio sobre os animais, e mesmo entre aquelas que o fazem, a noção de domínio deve ser entendida como uma proteção não egoísta dos animais, e não como uma autoridade egoísta. Os humanos devem amar toda a criação do mesmo modo que Deus fez ao criá-la. Se nós amassemos os animais hoje da mesma forma que os humanos os amavam no Jardim do Éden, nós não os comeríamos. Aqueles que respeitam os direitos dos animais estão embarcados numa viagem de regresso ao Éden – uma viagem de volta ao amor devido a toda a criação de Deus.



“E Deus disse, Contemplai; Eu vos dei todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, e todas as árvores de fruto, nas quais o fruto contém a própria semente; isto será o vosso alimento.” – Génesis 1:29



8. Apenas os humanos têm almas imortais. Isto nos dá o direito de tratar os outros animais como queremos.



Resposta: Muitas religiões ensinam que todos os animais, não apenas os humanos, têm almas imortais. Contudo, mesmo que apenas os humanos sejam imortais, isto apenas provaria que nós vivemos para sempre enquanto os outros animais não. E este fato (se for um fato) aumentaria, não diminuiria, a nossa obrigação de assegurar que esta – a única vida que os outros animais têm – seja tão longa e tão boa quanto possível.



“Não existe nenhuma religião sem amor, e as pessoas podem falar tanto quanto queiram acerca da sua religião, mas se isso não lhes ensina a serem bons e caridosos para os outros animais tal como para os humanos, tudo não passa de uma fraude.” – Anna Sewell



9. Se nós respeitarmos os direitos dos animais, e não os comermos ou explorarmos de outras formas, então o que é suposto fazermos com todos eles? Num curto espaço de tempo eles invadirão as nossas ruas e as nossas casas.



Resposta: Qualquer coisa como 4 a 5 mil milhões de animais são criados e massacrados para alimentação humana todos os anos, apenas nos Estados Unidos. O motivo para este número surpreendente é simples: há consumidores que consomem grandes quantidades de carne animal. O fornecimento de carnes de animais vai de encontro às necessidades dos compradores.

Quando a filosofia dos direitos dos animais triunfar, contudo, e as pessoas se tornarem vegetarianas, nós não precisamos ter este medo que hajam milhões de vacas e de porcos pastando no centro das nossas cidades ou nas nossas salas de estar. Uma vez que o incentivo monetário para a criação de milhares de milhões destes animais se evapore, simplesmente não existirão milhões destes animais. E o mesmo raciocínio se aplica noutros casos – no caso dos animais criados para pesquisa científica, por exemplo. Quando a filosofia dos direitos dos animais prevalecer, e este uso destes animais terminar, então o incentivo financeiro para os criar aos milhões terminará também. Como no caso de animais domésticos precisamos somente de uma política racional e educacional contra abandono destes e incentivoa contuda responsável de posse animal.



“O pior pecado contra as criaturas nossas companheiras, não é odiá-las mas ser-lhes indiferente. Essa é a essência da ausência de humanidade.” – George Bernard Shaw



10. Ainda que os outros animais tenham direitos morais e devam ser protegidos, há coisas mais importantes que precisam da nossa atenção – a fome mundial, e o abuso de crianças, por exemplo, o apartheid, as drogas, a violência contra as mulheres, e a condição dos desabrigados. Depois de tratarmos destes problemas, podemos então nos preocupar com os direitos dos animais.



Resposta: O movimento dos direitos dos animais, ergue-se como uma parte de, e não à parte, do movimento dos direitos humanos. A mesma filosofia que insiste nos direitos dos animais não humanos e os defende, também insiste nos direitos dos seres humanos e os defende.

Em termos práticos, além do mais, a escolha que as pessoas enfrentam não é entre ajudar humanos ou ajudar animais. Podemos fazer ambas as coisas. As pessoas não precisam comer animais para ajudar os desabrigados, por exemplo, tal como não precisam usar cosméticos que foram testados em animais para ajudar as crianças. De fato, as pessoas que respeitam os direitos dos animais não humanos, ao não os comerem, serão mais saudáveis, caso em que terão mais capacidades para ajudar seres humanos.



“Eu sou a favor dos direitos dos animais tal como dos direitos humanos. Esse é o caminho de um ser humano completo” – Abraham Lincoln



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*Tom Regan é Professor Emérito de Filosofia da Universidade do Estado da Carolina do Norte.

É autor de vários livros, entre eles, "Jaulas Vazias" lançado no Brasil pela Editora Lugano em 2006.



Para conhecer o trabalho de Tom Regan acesse: www.tomregan-animalrights.com




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Em Jaulas Vazias, Tom Regan revela sua inquietude quanto à natureza dos direitos dos animais





TRECHO DO LIVRO

DEFENSORES DOS DIREITOS ANIMAIS: AFINAL, QUEM SÃO VOCÊS?

Tom Regan

"Os animais têm direitos? Diversas pessoas dão diversas respostas. Às vezes as pessoas dão respostas diferentes por causa de uma discordância a respeito dos fatos. Por exemplo: uns acreditam que gatos e cães, galinhas e porcos não sentem nada; outros acreditam que sentem. Às vezes, diferentes respostas são dadas por causa de uma discordância a respeito de valores. Por exemplo: uns acreditam que os animais não têm valor nenhum, a não ser enquanto interesse dos humanos; outros acreditam no oposto. Divergências dos dois tipos são certamente importantes e serão exploradas adiante. Mas, mesmo sendo importantes, elas não tocam numa fonte mais básica de divisão de opiniões, que está relacionada exatamente à idéia dos direitos animais.
Algumas pessoas acham essa idéia a mesma coisa que "ser bondoso com os animais". Já que devemos ser bons com os animais, a inferência é óbvia: os animais têm direitos. Ou então elas pensam que direitos animais significam "evitar crueldade". Já que não devemos ser cruéis com os animais, a mesma conclusão procede: os animais têm direitos. Diante desses dois modos de entender os direitos animais, fica difícil explicar porque são tão polêmicos, com seus defensores de um lado, e opositores, de outro.

Essa controvérsia inflamada, muitas vezes ácida, que incita defensores contra opositores, nos informa que esses modos familiares de pensar (devemos ser bons para os animais; não devemos ser cruéis com eles) não conseguem captar o verdadeiro significado dos direitos animais. Acontece que o verdadeiro significado é, como veremos, ao mesmo tempo simples e profundo.

Os direitos dos animais é uma idéia simples porque, no nível mais básico, significa apenas que os animais têm o direito de serem tratados com respeito. E é uma idéia profunda porque suas implicações têm amplas conseqüências. Quão amplas? Eis alguns exemplos de como o mundo vai ter de mudar, uma vez que aprendamos a tratar os animais com respeito.

Vamos ter de parar de criá-los por causa de sua carne.
Vamos ter de parar de matá-los por causa de sua pele.
Vamos ter de parar de treiná-los para que nos divirtam.
Vamos ter de parar de usá-los em pesquisas científicas.

Cada exemplo ilustra a mesma lógica moral. Quando se trata de como os humanos exploram os animais, o reconhecimento de seus direitos requer abolição, não reforma. Ser bondoso com os animais não é suficiente. Evitar a crueldade não é suficiente. Independentemente de os explorarmos para nossa alimentação, abrigo, diversão ou aprendizado, a verdade do direito dos animais requer jaulas vazias, e não jaulas mais espaçosas."


A INVERDADE DOS RÓTULOS
Os opositores acham que direitos animais é uma idéia radical ou extrema, é não raramente rotulam os defensores dos direitos animais de "extremistas". É importante entender de que forma esse rótulo é usado como instrumento retórico para evitar a discussão informada e justa; do contrário, aumentam as chances de não termos uma discussão com esses atributos.

"Extremistas" e "extremismo" são palavras ambíguas. Em um sentido, extremistas são pessoas que fazem qualquer coisa para atingir seus objetivos. Os terroristas que destruíram as torres gêmeas do World Trade Center eram extremistas nesse sentido; estavam determinados a fazer de tudo para conquistarem seus fins, mesmo que isso significasse matar milhares de seres humanos inocentes.

Os defensores dos direitos animais (DDAs) não são extremistas nesse sentido. Vou repetir: os DDAs não são extremistas nesse sentido. Mesmo os mais combativos defensores dos direitos animais (os membros da Frente pela Libertação Animal, digamos) acreditam que haja limites morais absolutos para o que pode ser feito em nome da libertação animal: certos atos nunca devem ser cometidos, de tão ruins que são. Por exemplo, a Frente se opõe a ferir ou matar seres humanos.

Em outro sentido, a palavra extremista se refere à natureza incondicional daquilo em que as pessoas acreditam. Neste sentido, os defensores dos direitos animais são extremistas. De novo, deixe-me repetir: os DDAs realmente são extremistas, neste sentido. Eles realmente acreditam que é errado treinar animais selvagens a representar atos para o entretenimento humano, por exemplo. Mas, neste sentido, todo mundo é extremista. Por quê? Porque há algumas coisas às quais todos nós (espero) nos opomos sem restrições.

Por exemplo, todos que estão lendo estas palavras são extremistas, quando se trata de estupro; somos contra o estupro o tempo todo. Cada um de nós é um extremista quando se trata de abuso infantil; somos contra o abuso infantil o tempo todo. De fato, todos nós somos extremistas quando se trata de crueldade com os animais; nunca somos a favor disso.

A verdade pura e simples é que pontos de vista extremos são, às vezes, pontos de vista corretos. Assim, o fato de nós sermos extremistas, no sentido de termos crenças incondicionais a respeito do que seja certo ou errado, não oferece, por sí só, razão para se pensar que estejamos errados. Então a questão a ser examinada não é: "Os DDAs são extremistas?" A questão é: "Eles estão certos?" Como veremos, esta pergunta quase nunca é feita, e, menos ainda, respondida adequadamente. Uma conspiração entre a mídia e alguns fortes interesses se encarrega disso. "

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1157628-1655,00.html



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DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ANIMAIS

Dia 10 de Dezembro, comemora-se o Dia Internacional dos Direitos Animais.
Mas você realmente sabe o que o termo "Direitos Animais" significa? (1)

Nós humanos acreditamos possuir um direito intrínseco à vida e à liberdade. Cremos nisso pelo medo que temos da morte e por conhecermos a dor. Naturalmente, como não queremos isso para nós mesmos não devemos desejar aos outros. Chamamos isso de Direitos Humanos.

Ao longo da história fomos aumentando o número de grupos incluídos nestes direitos. Escravos, negros, judeus, homossexuais, mulheres... Aos poucos fomos incluindo todos os humanos neste círculo de compaixão. Não estaria chegando o momento de dar um passo a mais?

Os animais não humanos - em especial os vertebrados - também são seres vivos, dotados de cérebros e complexos sistemas nervosos. Logo, demonstram um interesse explícito de viver, de procriar, de cuidar dos filhos, de se alimentar, de sentir conforto de evitar a dor. (2) Sendo esses interesses idênticos aos nossos, não deveriam ser respeitados da mesma forma?

Infelizmente não pensamos assim. Além de não considerarmos que os interesses dos animais não humanos sejam de igual valor aos nossos, violamos seus direitos mais sagrados para garantir nossos interesses mais fúteis. Somos capazes de separar uma mãe de seu filhote, prendendo este durante dias sem uma alimentação adequada, e o matamos para comer sua carne anêmica, sem este ter visto a luz do sol. Não bastasse isso, ainda drogamos a mãe para produzir mais leite e comemos sua carne em hambúrgueres após a morte por exaustão. (3)

Reduzimos a vida a uma produção em série. (4)

O movimento dos Direitos Animais é um movimento que acredita que devemos reconsiderar nossa relação com os animais, reconhecendo a estes direitos fundamentais. Para que isto ocorra, precisamos deixar de utilizá-los antieticamente para a alimentação, para o vestuário, para a ciência e para o entretenimento.

Não acreditamos que seja justificável privar os animais destes direitos por não pertencerem à nossa espécie, nem por serem desprovidos do pensamento moral. Bebês ainda não desenvolveram esse tipo de capacidade e mesmo assim estamos de acordo que eles têm esses direitos. Não há propriedade que todo humano possua e que nenhum animal possua que justifique esta discriminação. A capacidade de sentir dor e a autoconsciência são os requisitos necessários para respeitarmos os direitos intrínsecos de todo ser vivo.


Mas não devemos confundir direitos passivos, como o direito à vida, com os direitos ativos, que só existem com a habilidade de pensar moralmente, como votar e dirigir. Da mesma forma que crianças não votam, obviamente não acreditamos que animais possam fazê-lo. Lembre também que direitos não implicam em deveres. Uma criança não pode ser presa por algum crime cometido pois lhe falta a consciência moral de seu ato. O mesmo vale para um animal que caça, ou mesmo um animal que machuca um ser humano. No entanto, é evidente que, quando os interesses entram em conflito, temos o direito a legitima defesa.

Você deve estar imaginando que esta idéia é uma idéia recente, mas não é. Pitágoras, o filósofo grego já defendia isto 6 séculos antes de Cristo. O conceito está mais forte hoje pois temos de um lado Darwin nos lembrando que também somos animais, e de outro por estarmos em uma época de exploração animal cruel e em larga escala sem precedentes. Por isso, cada dia que passa mais e mais pessoas aderem a este novo paradigma moral. (5)

Além da questão moral e ética, você ainda tem ótimos motivos para deixar de utilizar os animais como produtos para seus interesses:

1. Sua saúde

Hoje, grupos importantes como o Comitê dos Médicos pela Medicina Responsável (6) (Physicians Committee for Responsible Medicine) acreditam que uma dieta sem produtos de origem animal é a mais saudável para um ser humano.

De acordo com as Associações Dietéticas Americana, Canadense e Neozelandesa (7) uma dieta sem animais apropriadamente planejada é saudável e apropriada para todo o ciclo de vida. Além disso, possui uma série de benefícios como um menor risco de mortes por isquemia, menor pressão sanguínea, diabetes tipo 2, cânceres de próstata e de colo uterino.


2. Seu planeta

De acordo com a FAO, órgão da ONU, em um estudo recente foi descoberto que o gado é o principal emissor de gases tóxicos responsáveis pelo aquecimento global, superando, imagine você, os carros (8). Além disso é o maior contribuinte com a desertificação, a destruição do solo e a poluição da água. De acordo Henning Steinfeld, membro da organização, "Ação urgente é necessária para remediar a situação".

Trinta por cento do planeta está coberto por pastagens e 33% das terras plantadas tem como objetivo o consumo destes animais.

3. Seus filhos e netos, bisnetos...

Lembre-se de que um dia provavelmente seus netos lhe perguntem: "Vô(ó), porque vocês não fizeram nada quando podiam?". O que você responderá a eles?




Então, reflita ao menos um minuto sobre esta questão.

Os animais merecem.

Se você tem qualquer comentário em relação à este texto por favor, faça-o em :
http://direitos-animais.blogspot.com/

(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_Animais
(2) http://wip.warnerbros.com/marchofthepenguins/
(3) http://www.thecorporation.com/
(4) http://www.youtube.com/watch?v=VQHVCzHM-4k (parte 1, as 10 partes estão disponíveis)
http://www.isawearthlings.com/
http://www.ourdailybread.at
http://meat.org/
http://www.institutoninarosa.org.br/video/acarneehfraca.wmv
(5) http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_vegetarianos
(6) http://www.pcrm.org/
(7) http://www.eatright.org/ada/files/veg.pdf
(8) http://www.fao.org/newsroom/en/news/2006/1000448/index.html






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ARQUIVO


10 de Dezembro
é
Dia Internacional dos Direitos Animais
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10/12/2006 - 9° Dia Internacional dos Direitos Animais



Pela primeira vez no Brasil (e já em dezoito cidades simultaneamente), será lembrado o Dia Internacional dos Direitos Animais, que já é lembrado no mundo todo desde 1998. Neste ano, o tema do DIDA no Brasil será "Pelo fim da escravidão animal".

Segundo os organizadores, os animais são os escravos de hoje em dia, e a abolição da escravatura animal só depende de escolhas feitas no cotidiano de cada cidadão.

As ações de conscientização brasileiras farão parte das ações que ocorrerão no mundo todo, sempre com aquela mensagem muito simples, mas ao mesmo tempo muito forte: os animais não são nossos, não importa como queiramos nos beneficiar fazendo uso deles (seja fazendo experimentos com eles, seja comendo-os, seja vestindo suas peles, seja enjaulando-os em zoológicos, seja comprando-os para nos estimar, etc.).

Em São Paulo, ocorrerá uma passeata na Avenida Paulista.

Os cariocas conscientizarão quem estiver passeando pelo posto 4, em Copacabana, a respeito da vivissecção (testes em animais). Já os brasilienses escolheram como local de sua manifestação o zoológico de sua cidade, enquanto os porto-alegrenses escolheram o Parque da Redenção, onde simbolizarão quatro formas de exploração dos animais.

Os abolicionistas de Belo Horizonte farão um ato performático na Praça da Liberdade, enquanto os de Fortaleza exibirão vídeos sobre como os animais são usados hoje em dia, em pleno calçadão da beira-mar!

Em todas as cidades, estarão sendo recolhidas assinaturas para a nova (ou verdadeira, segundo os organizadores) Declaração Universal dos Direitos Animais, que se encontra em www.sentiens.net/declara



Contato nacional:

David Turchick: (21) 3474-3822 / 9482-2605, davidturchick@yahoo.com.br





Cidades e Organizadores locais:



Araraquara/SP

Walter: grupo-araraquara@svb.org.br

Belo Horizonte / MG

Koji: pretovelho@riseup.net

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Sobre táticas de ação na Defesa dos Direitos Animais:

"nossa luta é a afirmação última da PAZ",

portanto

"somos violentamente contra a violência".



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Um comentário sobre a violência


Centro de estudos
para a teoria e prática
dos Direitos Animais





© Gary L. Francione

Tradução: Regina Rheda © Ediciones Ánima
Texto pertencente ao Blog pessoal de Gary Francione
13 de agosto de 2007

Perguntam-me, com freqüência, qual a minha posição quanto às pessoas que apóiam o uso da violência contra os exploradores de animais.

Minha resposta é simples: eu sou violentamente contra a violência.

Tenho três razões para minha posição.

Primeiro, na minha opinião, a posição dos direitos animais é a rejeição final à violência. É a afirmação última da paz. Eu vejo o movimento pelos direitos animais como a progressão lógica do movimento pela paz, que procura cessar os conflitos entre os humanos. O movimento pelos direitos animais procura, idealmente, dar um passo adiante e cessar os conflitos entre os humanos e os não-humanos.

A razão pela qual nós estamos nesta confusão global de agora é que, ao longo de toda a história, praticamos, e ainda continuamos a praticar, atos de violência que tentamos justificar como um meio indesejável para chegar a fins desejáveis. Qualquer pessoa que já tenha usado de violência alega que lamenta ter precisado recorrer a ela, mas argumenta que um objetivo desejável justificou seu uso. O problema é que isso possibilita um ciclo interminável de violência, onde qualquer pessoa com uma forte convicção a respeito de alguma coisa pode adotar o uso da violência contra os outros como um meio para a finalidade de um bem maior, e aqueles que são o alvo dessa violência podem encontrar uma justificação para sua própria resposta violenta. E assim por diante.

Isso se trata de um pensamento moral conseqüencialista, e está destruindo o mundo e levando a algumas estranhas contradições. Uma grande parte do Ocidente afirma abraçar o cristianismo. Ainda que o Novo Testamento não seja muito claro sobre algumas questões, certamente deixa claro que a violência deve ser rejeitada. No entanto, líderes supostamente cristãos, junto com seu eleitorado supostamente cristão, justificam as mais violentas ações com uma pretensa grande relutância, a fim de obter um suposto bem maior, seja lá qual for. Aqueles contra os quais esses atos de violência são perpetrados também alegam abraçar religiões que rejeitam a violência, mas acham justificável usar a violência para responder ao ataque. Então, temos toda essa gente alegando que rejeita a violência por uma questão religiosa fundamental, mas praticando a violência mesmo assim. E nós dizemos que os humanos são racionais e os animais, não!

A violência trata os outros como meios para os fins de alguém, em vez de tratar os outros como fins em si mesmos. Quando praticamos violência contra os outros—humanos ou não-humanos—ignoramos o valor inerente deles. Nós os tratamos apenas como coisas que não têm nenhum valor, exceto o valor que decidimos lhes dar. Isso é o que leva tanta gente a cometer crimes de violência contra pessoas de cor, mulheres, gays e lésbicas. Isso é o que nos leva a usar animais não-humanos como mercadorias e tratá-los como recursos que existem exclusivamente para nosso uso. Tudo isso é errado e deve ser rejeitado.

Segundo, na opinião daqueles que defendem a violência, contra quem, exatamente, essa violência teria de ser dirigida? O fazendeiro cria animais porque a esmagadora maioria da humanidade exige carnes e outros produtos animais para comer. O fazendeiro cria esses animais em condições intensivas porque os consumidores querem que as carnes e os outros produtos animais custem o menos possível. Mas será que o fazendeiro é o único culpado? Ou a responsabilidade também é daqueles entre nós que comem produtos animais—incluindo todos os onívoros conscienciosos, aqueles não-veganos “que se importam com os animais” e consomem ovos de galinhas “livres de gaiolas” e carne “feliz”— e criam a demanda à qual atendem os fazendeiros que, de outra maneira, estariam fazendo outra coisa da vida? Suponho que seja mais fácil caracterizar os fazendeiros como “o inimigo”, ignorando a realidade da situação.

E quanto ao vivisseccionista, um alvo comum daqueles que defendem a violência? Fora a discussão sobre a vivissecção realmente produzir, ou não, dados úteis para lidar com os problemas de saúde humana, a maioria das doenças para cujo tratamento os vivisseccionistas estão usando animais poderia ser inteiramente evitada, ou drasticamente reduzida, se os humanos parassem de comer alimentos provenientes de animais e abandonassem comportamentos destrutivos como o hábito de fumar, de beber álcool em excesso, de usar drogas e de não se exercitar. De novo: quem é o verdadeiro culpado? Eu certamente não penso que a vivissecção seja justificável por qualquer razão que seja, mas acho curioso que aqueles que defendem o uso da violência possam ver os vivisseccionistas em separado, como se os vivisseccionistas não estivessem ligados às condições sociais que deram um lugar à vivissecção—e quanto a essas condições, todos nós somos cúmplices.

Além do mais, não devemos esquecer que há sempre inúmeras formas de abordar os problemas de saúde. A vivissecção é uma delas, e, na opinião de muitas pessoas (inclusive na minha), não se trata de uma escolha particularmente eficaz. A decisão de investir recursos sociais na vivissecção, em vez de investir em outras formas provavelmente mais eficazes, reflete uma decisão tão política quanto, ou provavelmente mais política do que, científica.

Por exemplo, as consideráveis despesas com as pesquisas da AIDS usando animais produziram pouca coisa de útil para os humanos com AIDS, e a maior parte daquilo que resultou em vidas melhores e mais longas para os pacientes de AIDS e HIV veio de testes clínicos feitos com humanos que haviam dado seu consentimento para esses testes. Certamente é plausível afirmar que se o dinheiro gasto na pesquisa com animais houvesse sido gasto em campanhas públicas educativas sobre sexo seguro e os riscos da troca de seringas, e em distribuição de preservativos, o índice de novos casos de HIV despencariam. A escolha de fazer experimentos com animais para tratar do problema é, em vários aspectos, uma decisão tão política quanto social. A experimentação animal é considerada uma forma aceitável de resolver o problema da AIDS, enquanto as questões da troca de seringas, da distribuição de preservativos e da educação sobre sexo seguro são politicamente controvertidas.

Então, de novo, o vivisseccionista não é o único culpado nessa história. Na realidade, pode-se argumentar que os principais responsáveis pelo uso de animais na pesquisa da AIDS são os políticos reacionários que atendem às vontades de uma base política reacionária, a qual rejeita formas mais eficazes de se lidar com a AIDS.

Terceiro, não está claro, para mim, o que é que os apoiadores da violência esperam alcançar na prática. Certamente eles não estão fazendo o público ver com mais simpatia os interesses dos animais não-humanos. É bem possível que o contrário seja verdadeiro e, quanto à percepção do público, essas ações tenham um efeito negativo. Vivemos num mundo onde praticamente qualquer pessoa com condições de comer produtos animais come esses produtos. Um mundo assim não oferece nenhum contexto em que o uso da violência possa ser interpretado de outra forma que não negativa.

Em outras palavras, em um mundo em que comer produtos animais é considerado, pela maioria das pessoas, tão “normal” ou “natural” quanto beber água ou respirar ar, é bem provável que a violência seja vista apenas como um ato insano e não contribua em nada para promover uma reflexão social mais avançada a respeito da questão da exploração animal.

A exploração animal permeia toda a nossa sociedade. Isso ocorre porque pensamos que os fins (os supostos benefícios que obtemos a partir do uso de animais) justificam os meios (a imposição de sofrimento e morte a bilhões de não-humanos anualmente), e também porque tratamos os animais exclusivamente como mercadorias e ignoramos seu valor inerente. Não dá para tratar dessa situação de maneira séria e significativa aplicando essas noções para justificar a violência contra humanos.

O fato de que pelo menos alguns “defensores dos animais” que apóiam a violência nem sequer sejam veganos é de nos deixar perplexos. Essas pessoas se importam com os animais a tal ponto que elas defendem ações para causar dano aos humanos que os exploram, mas parecem não poder, elas mesmas, parar de explorar animais.

A conclusão é clara. O único meio de um dia podermos ter um impacto significativo no problema é a educação não-violenta. E isso começa com nossa iniciativa de nos tornar veganos, rejeitando a violência contra os animais em nossas próprias vidas, e se difunde por meio da educação vegana criativa não-violenta.

Pretendo tratar desta questão com mais profundidade em ensaios futuros, mas já quis compartilhar algumas reflexões preliminares com vocês

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